Universo HQ resenha : O Quarto Vivente.
Olá, camarada. Tudo bem?
Saiu uma resenha bem legal de O Quarto Vivente no Universo HQ. Coloco aqui o texto na integra mas se quiser pode ver diretamente no UHQ.
Forte abraço!
Luciano Salles.
Saiu uma resenha bem legal de O Quarto Vivente no Universo HQ. Coloco aqui o texto na integra mas se quiser pode ver diretamente no UHQ.
Forte abraço!
Luciano Salles.
O quarto vivente
Por Audaci Junior
Data: 2 agosto, 2013
Editora: Independente – Edição especial
Autor: Luciano Salles (roteiro e desenhos).
Preço: R$ 20,00
Número de páginas: 48
Data de lançamento: Junho de 2013
Sinopse
No futuro, em um processo que durou 60 anos, a Eurásia foi inundada pelos oceanos. Os países desse continente foram incorporados por outras nações. O Brasil acolheu fraternalmente a França para dentro de seu território.
O ano é 2177 e o acaso se perdeu. O admirável mundo novo se volta para o individualismo. É nele que a jovem Juliett-e Mano-n descobre um método para mudar os caminhos até então percorridos e escolhidos.
Positivo/Negativo
O segundo trabalho de Luciano Salles (o primeiro foi a HQzine Luzcia, a dona do boteco) é um exercício das consequências do tempo atual que poderá levar ao futuro distópico representado nas suas páginas.
Hoje, o individualismo e a liberdade se perdem não só pelos contrastes sociais, mas também pela perda da identidade frente às novas tecnologias ou aos valores intrinsicamente ligados ao ser humano.
Em O quarto vivente, as pessoas usam fones de ouvidos e viseiras para não ter nenhum tipo de contato uns com os outros. Os veículos não têm vidros, guiados por câmeras, os partos são arranjados geneticamente e o controle total oferece os ecos de 1984, de George Orwell.
Interessante a construção gramatical do futuro rearranjado pelo autor, com estrangeirismos e neologismos que podem causar estranhamento, mas que se encaixam muito bem na história. Por exemplo, as expressões herdadas pelos nossos “convidados” franceses como “d’accord” ou “Por D’Arc” (uma referência à mártir santificada Joana D’Arc, camponesa que ajudou a França a vencer a Inglaterra na Guerra dos Cem Anos, no Século 15).
O efeito na protagonista de domar as estribeiras do destino também carrega traços biográficos do autor, que por muitos anos foi bancário em Araraquara, São Paulo, e largou tudo pra se dedicar profissionalmente aos quadrinhos.
Com um estilo que combina o underground e a “linha clara” europeia (lembra muito os trabalhos dos brasileiros Rafael Grampá e Rafael Coutinho), a arte estilizada e as belas cores funcionais de Salles mostram-se bem “vivas” e dinâmicas.
Às vezes, os detalhes causam certa confusão, como no quarto quadro da página 11, em que percebe-se, na continuação da narrativa, que são os joelhos da protagonista. As spash pages (páginas que fazem um único painel) não são bem aproveitadas, a exemplo da 3, em que o impacto causado pelo trânsito “cego” não é alcançado.
Vale notar que o autor também aproveita algumas splash pages para quebrar a narrativa para detalhar seu futuro, um indício que esse universo poderá ser revisitado.
Em contrapartida, as junções cinematográficas dos detalhes em O quarto vivente mostram uma simplicidade que serve para contar a história e oferecer o tom intimista. Cenas como a inseminação de Juliett-e e o “cheiro de nostalgia” da sua amiga Madelein-e conferem o domínio narrativo de Luciano Salles.
Sobre a qualidade editorial do álbum, sabe-se que já se foi o tempo de fotocópias e mimeógrafos associados aos independentes, mas o trabalho de Salles impressiona. Um formato diferenciado (semelhante a uma folha A4), aliado a uma ótima impressão em um papel couché fosco de alta gramatura oferece fidelidade à sua arte.
E a bela capa cartonada ainda tem aplique de verniz, QR Code e orelhas. Tudo isso por um preço bastante acessível, valendo pela qualidade material e artística da obra.
Dentre escorregadas, nada que comprometa a HQ: a justificação da apresentação de Ivan Freitas da Costa, um dos curadores do Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, está muito espaçada, dificultando um pouco a leitura; e o crédito do posfácio assinado por Daniel Lopes faz parecer que ele é editor da DC e Vertigo nos Estados Unidos, não da Panini, que lança esses selos no Brasil.
Mas é tudo perdoável pelos outros acertos editoriais.
Uma edição e um quadrinhista que merecem ser conferidos, seja pela arte, pela construção de um universo ou pelo desfecho aberto do seu recorte futurístico.
Classificação