Como exercício recordatório, L’Amour: 12 oz começou a se formar uns dois anos antes de eu esboçar qualquer roteiro. Era uma história que estava fragmentada. Eu já havia começado, entretando, a trabalhar no que viria a ser minha segunda HQ autoral e independente, O Quarto Vivente, lançada em junho de 2013.
Eis que chegou o momento de trazer L’Amour: 12 oz. do mundo imagético para o mundo dos papéis. Ou melhor, dos editores de texto. Era a hora de alinhar os fragmentos.
“Doze onças” nada mais é que uma história de amor. Não exatamente daquele modo piegas (e que de forma alguma condeno). Ela conta a história de amor de um velho boxeador, que espera do tempo o peso que o próprio tempo possa lhe fornecer. São quatro personagens, e em momento algum sabemos seus nomes.
Outro detalhe que eu queria era pouco texto. Gosto de escrever histórias e meus roteiros podem ter até mais páginas que a própria HQ. Gosto tanto de escrever quanto de desenhar – esse é um dos motivos pelo qual amo os quadrinhos. Mas eu poderia usar pouco texto porque, com as imagens certas, meu intento seria cumprido.
Tinha que escrever uma história de um amor e sua relação com o tempo. Mas que tempo? Que tipo de tempo se insere em uma história de amor? Em uma sincera história de amor? Como o sentido termodinâmico do tempo age nesta hipótese? Com tantos questionamentos, tinha algo como certo, o tempo age e pesa de acordo com sua necessidade.
E para resolver esses problemas, acreditei que a solução seria a narrativa. Esse foi um desafio que me fez feliz enquanto escrevia e posteriormente, desenhava os quadrinhos. Ficava contente com cada página pronta e finalizada.
Precisava escrever uma história linear. Exatamente cronológica com suas horas, minutos e segundos. E ao mesmo tempo, dentro desta história linear e pontuada, uma outra, que não obedeceria à cronologia do tempo, mas sim ao texto narrativo. Com o texto reduzido, sucinto, e os desenhos, ela precisava ser acima de tudo sintética. Eu não queria uma história longa, para além de 80 páginas, coisa e tal. E, camarada, se continuar a divagar a partir daqui, o que escrever poderá ser entendido com spoiler, o que não desejo.
Sempre comento por onde passo que um álbum em quadrinhos somente cumprirá sua função quando o leitor adquirir, ler e de alguma forma, além do entretenimento, alguma coisa ali o instigue. Um detalhe, uma cor, uma linha, uma palavra, algo que seja de certa forma, amável ao olhar do leitor. E defendo bravamente que nunca e jamais devemos subestimar o leitor. É com ele que o ciclo se fecha. E é com ele que deixo a esperança de uma segunda leitura, uma dúvida, um apontamento, uma crítica, ou mesmo, uma leitura de puro entretenimento.