Um começo é sempre um começo diferente de outro começo qualquer
Estúd(i)o de Escuta – onde atendo meus e minhas analisantes |
Quem me segue pelas redes sociais percebeu que também trabalho, ou melhor, tenho o ofício como psicanalista –de orientação lacaniana– há algum tempo e com esta minha nomeação, uma clínica se iniciou.
Com isso, por vezes, algumas perguntas chegam no meu Instagram. São do tipo: 1) Mas você abandonou as histórias em quadrinhos? 2) Você não ilustra mais para a Folha? 3) Você vai deixar de participar das convenções e festivais de quadrinhos? 4) Você parou de desenhar? 5) Quando vai lançar uma nova HQ? Basicamente são essas questões.
Poderia responder com apenas alguns sins ou nãos, mas essas questões não tocam apenas uma afirmação ou negação da minha parte. De início turvo, localizo que meu percurso pela psicanálise começa em 2014 e talvez este seja um ano que consigo mensurar este início pela recordação de ter sido enquanto produzia minha HQ L’Amour: 12 oz.
Um começo... Digo isso pois este foi pela busca por algum mecanismo que desse conta de como eu poderia recolher meu corpo que havia escorrido pelo limite que minha pele faz. Encontrei essa ferramenta que me serviu na psicanálise.
Nunca foi uma paixão. Não fui tomado por um desejo imediato de que era aquilo que queria fazer pra minha vida. Não, não mesmo. Um começo é sempre um começo diferente de outro começo qualquer.
Mas o que acontece é que pelos meus estudos iniciais, minha análise, estudos direcionados, formação e posteriormente supervisão, percebi que não seria possível repor o que havia vazado. Até que em determinado momento do meu percurso, algo como que uma fagulha começou a me levar a questionar o que estava sentindo: eu desejava a escuta? Algo havia mudado e quando percebi mudei de posição. De analisante à analista.
Durante meu caminho (um caminho sem término mas com um fim) pela psicanálise, continuei produzindo meus quadrinhos e ilustrando para a Folha de S. Paulo. Fiz L’Amour, Dark Matter, EUDAIMONIA e Grand Prix Metanoia que foi meu último trabalho publicado em 2019. Na Folha de S.Paulo lustrei para as colunas do Daniel Furlan, Contardo Calligaris, Maria Homem e hoje ilustro a coluna do Candido Bracher.
Então, talvez, as respostas já estejam nos parágrafos acima ou pelo que se segue: posso afirmar que a dinâmica muito se alterou. A demanda e procura de analisantes por sessões aumentou, minha análise segue e seguirá assim como meus estudos psicanalíticos. A demanda por ilustrações se manteve. Histórias para contar eu tenho e sei que gosto de contá-las com meus desenhos.
Sou um psicanalista e artista, um artista e psicanalista.